10 de novembro de 2008

Árvore de Sonhos ( I )

Era chegado o momento de se começar a preparar o Natal. Estávamos a escassos dias de mais uma noite mágica.
Nas ruas a neve caía. As casas, enfeitadas de luzes, sobressaíam naquele nevoeiro da manhã. As pessoas andavam atarefadas, como era hábito, para que nada pudesse ficar em falta. Arranjavam a árvore de Natal, faziam bolinhas, compravam presentes…
À excepção de uma única senhora.
Esta ficava a observar os passos de cada um dos seus vizinhos.
Cassandra era uma senhora de meia idade, que vivia numa luxuosa vivenda cercada de arbustos que a deixavam isolada dos restantes habitantes da aldeia. Só a sua localização lhe permitia observar o que se passava: ficava no ponto mais alto da aldeia. Para ela, o local era o ideal: nunca poderia ser observada por ninguém.
Cassandra não era uma pessoa muito querida pelas gentes da terra: apesar de todos falarem nela, ninguém a conhecia, ninguém sabia nada acerca da sua vida. A vida de Cassandra era para todos um mistério. Havia comprado aquela casa há já cerca de dezoito anos para a qual se mudou sozinha. Nunca se deu a conhecer e ninguém lhe conhecia qualquer visita… Nem o Sr. António, que era quem sabia tudo da vida daquela aldeia.
Cassandra era, de facto, uma pessoa solitária: tinha perdido o marido. Filhos: nunca teve. Nada lhe importava na vida. Sentia-se só e sem esperança no mundo.
No entanto, não era a mulher que todos julgavam ser. Não! Ela era uma mulher de muitos e generosos sentimentos.
As marcas de uma vida muito dolorosa e amarga faziam-na chorar dia após dia. Quando ali chegou tinha a esperança de poder continuar a sua vida: sozinha mas com a companhia de todos aqueles seus amáveis vizinhos, todas aquelas maravilhosas crianças…
Mas este seria apenas mais um ano em que, para ela, não iria haver Natal. Há muito tempo que perdera o sentido.
Pedro e João são dois meninos desta aldeia. Têm sete anos de idade; um mês de diferença.
Pedro é filho do casal mais abastado da aldeia. Andava radiante com a chegada da véspera de Natal: um dos momentos do ano que mais gostava, tal como qualquer criança da sua idade.
Já João mostrava-se tristonho.
Os pais de João eram pessoas bastante humildes. O pai tinha o seu ganha pão na agricultura e a mãe não gozava de boa saúde. João era o mais velho de 4 irmãos. Tudo naquela família era feito com muito sacrifício.
Pedro, na sua casa, tinha já uma árvore de Natal rodeada de imensos presentes que o deixavam num êxtase incontrolável; João tinha visto negada pelo pai a hipótese de ir cortar um pinheiro para decorar com algumas fitas de papel de havia recortado.
Brincava com os seus irmãos, junto ao calor da lareira, enquanto a mãe, com alguma dificuldade, preparava uns ovos para o jantar de todos. Os seus pensamentos pareciam estar ausentes. E estavam. Quando pediu ao pai se poderia cortar um pinheiro não foi por falta de preocupação com a Natureza. Viu os pais de todos os seus amigos a fazê-lo e achou que mais um não faria a diferença. Quando viu negada essa hipótese, deslocou-se ao local onde tinha visto o seu pinheiro, levou consigo todas as fitas de papel e decorou-o. Ficou sentado a olhar aquela que achava ter sido a sua mais bonita obra dos últimos tempos.
Sem perceber, estava bem próximo da casa de Cassandra que, enternecida, chorava ao espreitar tão doce menino. Logo que deu pela presença da senhora, levantou-se pronto para voltar a casa.
(continua)

12 comentários:

Lisa disse...

Muito bem, amiga!!!
Não te sabia tão criativa!
Estou a adorar! Fico ansiosa a aguardar pela continuação.

Fica bem.
Beijinhos doces.

Lisa

CA disse...

Querida Lisa,
Criativa.... mais ou menos... Está mais ou menos....Mas fico feliz por estares a gostar. Entretanto virá a continuação.
Beijo grande, grande
CA

Cris disse...

Temos estória! Estou curiosa para saber o resto!
Parabéns!
Beijinhos.

Tite disse...

Estou ansiosa pela continuação.
Prevejo um final feliz, já que todos os contos de Natal, apesar de tristes, acabam sempre bem.

Até breve...
Beijos

CA disse...

Cris,
Está quase, quase.
Gostei muito da tua visita; volta sempre.
Beijinho
CA

CA disse...

Tite,
É verdade: normalmente são tristes mas com finais que desejaríamos para todas as histórias que nos rodeiam.
O final deste.... não sei....
Beijinho grande
CA

paula machado disse...

olá Cristina

obrigada pelo apoio amiga
esta história parece que vai ser daqueles contos de Natal tristes mas lindissimos vou aguardando pelo desenrolar da história

beijinhos do tamanho do Mundo

Cátia disse...

Ola querida amiga,

Este é um dos seis contos que resultaram da divulgação do projecto CrioNatal 2008. Tive o imenso prazer de ver este teu conto a contribuir para uma causa tao nobre. Obrigada por isso.

Quanto ao conto em si, eu sou uma sortuda porque já conheci-o nessa altura... Gosto muito desta tua veia, apesar de saber que não é a escrita criativa em prosa não é a tua preferida... Gostei mt do conto, mas nao me vou adiantar para nao desvendar o misterio ;)

Muitos beijinhos

To e Li disse...

Muito bem!!!
Estou a ver que foi este o conto de Natal que enviaste para o projecto da Casa do Gil!!!
Temos escritora gostei,fico a espera do seguinte capitulo.

Beijinhos
Linda

CA disse...

Paula,
Não agradeças: é tão pouco... Força Mãe Coragem!!!
Qaunto ao meu conto: vai já sair o final.
Beijinho grande
CA

CA disse...

Cátia,
Não é o que mais gosto mesmo! Aqui levantaram-se os valores que referes: por uma causa escrevo o que me mandarem!!!
Já agora: ando à espera de ver por aí os outros cinco contos.... até agora: nada....
Beijocas
CA

CA disse...

Linda,
Foi este sim. E fiquei muito feliz quando recebi um mail a confirmar a contribuição para a Casa do Gil: apesar de se terem feitos contactos no sentido de saber da veracidade dos factos, foi mais uma confirmação.
Beijinho grande
CA