Mas, para seu espanto, Cassandra disse-lhe:
- Querido, não te assustes. Vem cá…
A medo, mas a observar o olhar meigo de Cassandra, João aproximou-se.
- Que linda árvore de Natal! Só faltam os presentes, a família e uma mesa com doces: e tudo fica pronto para comemorar a noite de Natal! – exclamou Cassandra, com todo o seu carinho.
João não conseguiu controlar as lágrimas que teimavam em inundar-lhe os olhos. Já começavam a correr-lhe pela face seca do frio de Inverno.
Cassandra, de forma cautelosa, baixou-se e abraçou o menino.
- Diz-me querido, o que te faz chorar?
A muito custo, João controlou-se e conseguiu dizer algumas palavras:
- Tenho esta árvore… mas não tenho mais nada para a minha família comemorar o Natal. O meu pai trabalha muito e anda sempre zangado, a minha mãe está muito doente… não sei o que eu e os meus irmãos vamos comer na noite de Natal e sei que não vamos ter presentes…
Nesse momento, passou Pedro na companhia dos pais: brincavam com a neve. Faziam lindos bonecos, atiravam bolas uns aos outros… As suas gargalhadas não os deixaram passar sem se fazerem notar. Pedro, ao ver João na companhia de Cassandra começou a troçar dele. João não entendia o porquê daquela atitude, mas Cassandra sabia. Cassandra sabia que era chamada dos mais diversos e desagradáveis nomes pelos seus vizinhos; e parecia que nem a algumas crianças isso escapava.
Dias depois, era véspera de Natal.
Pedro andava pelas ruas a contar aos amigos o número de presentes que tinha na sua magnífica árvore, os doces deliciosos que a mãe estava a preparar para aquela noite.
João estava sentado com os irmãos perto da porta de casa a partir alguns galhos de árvore que iriam servir para aquecer a sua casa.
Como eram diferentes os seus mundos…
Pela primeira vez em dezoito anos, Cassandra percorre as ruas da aldeia. O espanto de todos era impossível de disfarçar. Burburinhos passavam de boca em boca. Mas o que estaria a acontecer? Porque teria tal pessoa vindo à aldeia? O Sr. António dizia até que poderia ser um mau presságio!
Cassandra dirigiu-se a casa da família de João. Entrou e, para desalento de todos os que ficaram de fora, ninguém soube o que se passou dentro daquelas paredes.
Cerca de uma hora depois, João, os seus pais e irmãos saem com Cassandra em direcção à casa desta.
Quando entram não queriam acreditar! Uma casa confortável, quentinha, uma mesa não muito abastada mas com tudo o que nunca haviam sequer experimentado; uma árvore de Natal minuciosamente decorada com alguns presentes em seu redor… Tudo como se de um sonho se tratasse. Mas era real!
Todos comeram, brincaram, riram… até Cassandra voltou a viver o Natal. Viveram uma noite que nunca iriam apagar das suas memórias.
No dia seguinte, quando João acordou, a sua nova amiga e o seu pai estavam na sala a conversar com um sorriso estampado na cara. Curioso, aproximou-se.
- João, a Cassandra já vive sozinha há muitos anos e não tem família. Convidou-nos para virmos morar com ela. O que achas?
O menino não coube em si de tanta felicidade. Não sabia se estaria a sonhar, se estaria acordado, não sabia o que dizer…
Era bom demais. Todos os seus problemas iriam ter um fim: o pai que já não tinha que trabalhar demais para dar de comer à família, a mãe que podia ter condições para se curar das suas gripes constantes, ele e os irmãos iriam poder comer como todas as outras crianças, todos passavam a dormir numa cama quentinha…
Cassandra pegou-o pela mão e dirigiu-se para a porta. Caminharam alguns metros e perguntou-lhe:
- Lembras-te daquela árvore de Natal? – apontando para o pequeno pinheiro ainda com os restos de algumas fitas de papel.
- Sim...- respondeu ele, expectante
- Foi junto dela que recebemos os nossos maiores presentes de Natal! – exclamou Cassandra.
O menino entendeu o sentido de cada palavra que ela tinha acabado de dizer.
A neve caía, o vento frio soprava, mas nada poderia interromper o abraço que houve a seguir àquelas palavras. O calor do Amor era muito mais do que o frio do Inverno.